Melancolia, de Lars Von Trier | Cinema
Acho que há alguma destreza em nos envolver com o clima que deseja – apocalíptico. Porém, nada e morre na praia com Justine e Claire. Na segunda parte do filme, a certa altura, eu já clamava pra que ele terminasse. Não aguentava a sequência de diálogos pretensiosos; essa tentativa infinita de nos fazer sentir aquilo que Trier quer transmitir através do filme – sem que seja feito de forma crível. Posso soar tolo acusando-o disso, mas é inevitável pensar dessa forma com a conversa entre Justine e Claire, quando a personagem de Kirsten diz que sabe das coisas. Ah, vá.
A Separação, de Asghar Farhadi | Cinema digital
Não há maquiagem para a dor neste cinema iraniano, muito menos metáforas sobre a política. Ao menos não me chega desse modo. Acho que nele há, sim, a vida mostrando o que é, escancarada em tamanho gigante diante de quem assiste. Você ficará sem chão durante a maior parte de A Separação. Assistindo, eu tinha a impressão de que o filme se preparava para aquele grande plano final, que iria ser síntese de toda a bagunça que assistimos – e que parece não ter fim.
A Garota Ideal, de Craig Gillespie | DVDRip
Assisti-lo pela 3ª vez só me fez ter certeza de que este é um dos filmes da minha vida. Não é uma obra-prima de cinema, mas é mais cheio de vida que a maior parte dos filmes que passamos tanto tempo vendo. Um pequeno conto sobre pequenos cristos. Uma cena em especial dessa vez me chamou atenção e conto outra, primeiro, para contextualizar: Lars está na cozinha com seu irmão e comenta que na cultura de Bianca, há alguns rituais de passagem que são importantes e ele acha isso algo legal. Então ele pergunta: “o que faz com que tenhamos certeza que nos tornamos homens?”. A resposta importa bem menos que a pergunta. Lars está ali mostrando que está começando a entender que ainda é apenas um adolescente no corpo de um homem adulto de bigode. Na cena a seguir, no escritório, dois colegas de trabalho estão ainda brigando de “quem pegou meu brinquedo?” e o seu colega de báia “esganou” o ursinho de pelúcia da paquera retraída de Lars. Adolescentes trabalhando. Lars vai até a copa e a moça está chorando diante do ursinho enrolado com um cabo USB. Ela diz que não está chorando só por isso, mas porque havia acabado o namoro. Lars, enquanto a moça abre seu coração, remove o fio do pescoço do ursinho e começa a trata-lo como um paciente em atendimento de urgência. Faz respiração boca a boca, massagem cardíaca, escuta a respiração, brinca com a dona do urso. Ela, como Lars, é uma adolescente que ainda leva ursinhos de pelúcia para enfeitar a mesa de trabalho e “brinca” de esconder os action figures do colega. Mas Lars, ali, de repente passa a agir com um carisma, atenção e cuidado, que antes não pareciam lhe interessar. Age como o seu irmão diz na cena anterior: “Você ainda tem o lado infantil por dentro, mas você cresce quando decide fazer a coisa certa. E não só o que é certo para você, mas para todos”. O urso, a boneca Bianca, o cachecol feito pela mãe – todos objetos que simbolizam um pouco do que Lars é e do ritual de passagem que ele precisa e está vivendo.
A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorcese | Cinema 3D
Não acompanho o cinema 3D com grande afinco, porque as experiências geralmente são negativas. Mas apenas três filmes que vi me pareceram pensados calmamente para a tecnologia: Avatar, Enrolados e, agora, este Hugo de Scorcese. Era fantástico ter ao meu lado um colega que não parecia muito entrosado com a tecnologia, babando com a soma perfeita do diretor: saber filmar em 3D, junto a uma paixão por cinema e uma honrosa e fantástica homenagem a George Méliès. Apesar dos dois amigos funcionarem muito bem juntos, acho Isabelle uma personagem meio entediante, chata. Tudo pra ela é maravilhoso toda hora, com um exagero quase teatral. Bastava muito menos para mostrar que ela tem a alegria que falta ao solitário Hugo e aos seus padrinhos. Mas é saboroso ver Scorcese (um cineasta que é conhecido como um pesquisador que preserva a história do cinema, restaurando filmes clássicos) fazendo um filme como este. Hugo é não menos que uma pausa no seu processo autoral para nos dar um belo sermão sobre a importância da história deste cinema que, em meio ao encanto com as novas tecnologias, não pode esquecer da história de um Méliès, por exemplo. É belo, belo…e a cena do aquário já é inesquecível.
Kill Bill Vol. 2, de Quentin Tarantino | Blu-ray
Não consigo achar o segundo filme uma obra-prima como o primeiro. O que dá pra notar é que, diferente do primeiro, este é um filme bem mais direto. Tarantino mesmo o define como o filme das explicações, das histórias sobre quem são essas pessoas misteriosas que conhecemos no primeiro filme. E torna-se interessante perceber que Tarantino escolhe não contar nada sobre o passado dos personagens, como fez com O-Ren Ishii no primeiro filme. Não sabemos a história de Bill ou das origens da noiva, ou de quem quer que seja. O ele nos conta? Apenas o que acontece entre eles. O primeiro filme é uma obra de ritmo frenético, de encanto cinematográfico pela ação, pela destreza na mise-en-scene. Aqui, temos tudo isso, mas com outro ritmo, bem mais western. É uma delícia de ver.