[Literatura] Leia a resenha de Ricardo Oliveira sobre ‘O Clube do Filme’, de David Gilmour

“Então eu disse a Jesse, ou melhor, repeti, uma coisa que tinha aprendido na universidade: que a segunda vez que vê uma coisa é na verdade a primeira vez. Você precisa saber como a coisa termina antes de poder apreciar sua beleza desde o início”. (O Clube do Filme, capítulo 3, página 50).

Esta citação é para mim a mais emblemática de O Clube do Filme, de David Gilmour. Livros que tem esse tipo de fala merecem lugar cativo na estante, mesmo que no todo eles tenham suas fragilidades, seus pequenos excessos. Um deles aqui, talvez seja por alguns momentos investir demais na descrição dessa relação tortuosa com o filho. Entretanto, é impossível culpá-lo afirmando isso categoricamente. Não posso. Estamos falando de um livro que é um diário aberto a público de uma história real e complicada.

David Gilmour e seu filho Jesse / Foto: George PimentelJesse, filho de Gilmour é um mau estudante que se interessa apenas por rap and chicks. Ele não gosta de escola. Gilmour tem a ideia maluca de dizer ao filho que ele não precisa mais frequentá-la se não quiser. Todavia, terá de assistir com o pai ao menos 3 filmes por semana. Todas as obras seriam escolhidas a dedo por Gilmour e esta seria toda a educação que o filho teria. Acontece que Jesse também é um apaixonado melancólico – desses que sofre desesperado quando perde a amada. Problemas com drogas surgirão e o dilema de Gilmour fica pior do que ele imaginava.

Capa do livro "O Clube do Filme"Os filmes que os dois assistem variam entre clássicos como Matar ou Morrer, Assim Caminha a Humanidade, coisas mais complexas da nouvelle vague, até chegar  ao que ele chama de “Prazeres Culpados” (filmes que ele sabe que são ruins, mas gosta mesmo assim), como Nikita – Criada Para Matar (1990) e Rocky III – O Desafio Supremo (1982). Entretanto, independente de qualquer filme, ao ler o livro você perceberá um fato importante: Gilmour, além de ter uma percepção acurada sobre como certas cenas se tornam antológicas, inesquecíveis, ele sabe como, sutilmente, fazer os filmes se conectarem com a vida.

Nesse caso, essas conexões por muitas vezes soam bastante óbvias na leitura. A tentativa de Gilmour é obviamente ensinar a Jesse mais sobre a vida através dos filmes. Ainda assim, em alguns capítulos isso se dará de forma mais sutil e exatamente aí que o autor acerta em cheio. É quando ele faz afirmações como aquela que abre esta resenha que atinge o auge de sua escrita em O Clube do Filme. Não são apenas filmes que precisam ser vistos duas vezes para entender sua beleza. Eis o belo deste livro, que além de ser um dos melhores guias para cinéfilos iniciantes, ensina bastante sobre o desafio de criar filhos.


O CLUBE DO FILME
David Gilmour (tradução: Luciano Trigo)
240 páginas
Ed. Intrinseca
COMPRE – R$ 19,90

One Reply to “[Literatura] Leia a resenha de Ricardo Oliveira sobre ‘O Clube do Filme’, de David Gilmour”

  1. É um excelente livro! Comprei há pouco tempo e o devorei em 2 dias. Uma história cativante que mostra uma relação complicada entre pai e filho e o aprendizado que o filho vai tendo através dos filmes.

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